QUE MUNDO SERIA ESTE?



  Ao deparar com a violência urbana no nosso dia-a-dia, percebemos o quanto isso nos domina, não é segredo que é um problema grave nas grandes metrópoles. Infelizmente.
“Em dezembro de 2011, 2 casais foram vítimas de uma violência já trivial em São Paulo: assalto à mão armada. Voltando de madrugada de uma festa, estacionaram o carro em frente à casa de um dos casais e foram abordados por dois assaltantes armados, que os obrigaram a abrir a residência, os vendaram, os trancaram no banheiro, roubaram vários objetivos da residência e o carro da namorada do dono da casa.



  Assim como muitos que passaram por esta experiência, o que mais fere não é a perda financeira, mas a violência moral, o sentimento de impotência que o consumiu durante dias, apesar da tentativa de lidar com a situação de maneira equilibrada, de não se alterar e manter a cabeça fria.
  E ele o conseguiu! Mas não antes de expressar toda a raiva e frustração. Certa noite tentou ouvir alguns CDs em um aparelho de som que não funcionava direito e que por isso não tinha o costume de usar. Porém, como o aparelho que usava havia sido levado pelos assaltantes, era a única opção. Quando o aparelho não rodou nenhum dos CDs que colocou nele, todo o ódio que sentia pelo criminosos tomou conta do rapaz e passou a destruir o aparelho com as próprias mãos, enquanto os xingava como se estivessem lá – “filhos da puta! Filhos da puta”, ele gritava sem parar.

  Terminada a catarse, ele estava bem. Sentia-se equilibrado, tranqüilo e em paz. Em alguns dias, desapegou do ocorrido. E, ao invés de se lamentar dele, decidiu aprender com ele.
  
Aprendeu a não odiar os dois criminosos que o assaltaram. Primeiro que entendeu que o ódio não prejudicaria a ninguém, a não ser a ele mesmo (“guardar um ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra”, disse Shakespeare, sabiamente). Segundo que não via como acontecer algo terrível a eles podia trazer alento.
  
Assim, não o desejou – como muitos desejariam – que sejam crivados de bala pela polícia, torturados ou estuprados na cadeia. Desejo justiça, sim – mas não retaliação. Desejava que sejam capturados, punidos e reabilitados para a vida em sociedade. Sabe que em nosso sistema carcerário as chances disso acontecer tendem à zero e que é mais possível que, se presos, a prisão os torne piores ao invés de melhores; ainda assim, era o seu desejo.
  
É seu desejo que estes dois criminosos se arrependam, aprendam que não serão felizes tirando o que é do rapaz e nem seu”
 
 Assim, desejo-lhes o mesmo que desejo à minha família, aos meus amigos, a um estranho e a mim mesmo. Pois todos, sem distinção, estamos mais ou menos doentes e necessitamos do mesmo remédio: encontrar a felicidade inabalável que reside em nossos corações e a qual não pode ser roubada, mas apenas oculta de nós por nós mesmos.
  
Se de alguma maneira estes dois assaltantes aprenderem esta lição, não desejo mais nem que sejam presos. Pois o propósito da prisão, que deveria ser estes, já terá sido alcançado. E ainda que as chances disso acontecer possam ser pequenas, torço que aconteça, pois creio ser possível.
  
Apesar de todas as atrocidades que vejo cotidianamente, de todas as violências que já sofri, de todas as notícias terríveis que recebo pela mídia, estou resoluto a não perder a esperança no ser humano jamais. Nunca perderei a fé no potencial que todos mesmo o mais atroz dos criminosos, temos de desenvolver nosso dom precioso: o sentimento de união com todos os seres. E tudo aquilo que advém deste sentimento – responsabilidade para consigo mesmo e para com o mundo, compaixão e amor incondicional pelo próximo.
 
 Creio firmemente neste potencial porque, voltando meu olhar para o meu íntimo e sendo honesto comigo mesmo, vejo-o lá. Dormente em grande parte e esperando para ser desperto, é verdade, mas não tenho dúvidas de que está lá. E, se está em mim, tenho certeza absoluta de que está em todos. Pois, como disse La Boetie, a natureza nos fez todos “da mesma forma e (…) na mesma fôrma.” Se este potencial não estivesse nos assaltantes que invadiram a casa, não estaria em mim, como acredito que esteja.


Portanto, faço minhas palavras as do poeta Thiago de Melo: “apesar do próprio homem, ainda é tempo.”


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